quinta-feira, maio 19, 2005

A força da lei

f251162.jpg


Pois então que venham todas as coisas e se derramem por todos os cantos e elas, as coisas, que fiquem enleadas de sal marinho e fogo com chamas até aos céus. E aí, por sua vez, que venha a lua, pois que venha e naquele céu ficam perdidas no estado de espírito as palavras ditas com presságio e sem ter podido recorrer ao cigarro que, em inconsciência de um vício vingador acendi.

Nos teus olhos todos os diálogos ditos em surdina, com abraços e sorrisos e um sabor doce na ponta da língua, derramado por cada palavra sussurrada. E tudo que não foi compartilhado, suor, lágrimas e vontades e até o desabrochar daquela flor, lembras?, aprendi naquele dia, naquele instante que durou a eternidade de um segundo a importância de olhar dentro dos teus olhos. As minhas mãos tremiam de vontade em esmagar entre meus braços, acariciar teus seios, percorrer teu corpo, tudo num só movimento, os impossíveis que a mente ordena. E foi o mesmo em outros diferentes.

Talvez algo esteja reservado para muito além de simples desejos, ou de uma camisola amarela escolhida num momento sem pensar e das transparências de um olhar a ultrapassar o horizonte, naquela praia deserta. E foi então que desceu sobre mim toda a raiva escondida numa gaveta entreaberta e tomei consciência de todo o aprendizado a escapar-se por entre as brumas do esquecimento. Vazio fiquei. De mim, de ti, de tudo e de todos. Pois que seja, mais cedo ou mais tarde acabo sempre por escutar o que não precisava de atingir, o lado mais sóbrio de mim

Não dá para perder mais tempo, é hora de assinar a poesia e clamar aos ventos e sussurrar ao teu ouvido, que não esqueci as memórias gravadas a fogo de todos e cada instante que nos deliciaram. Deixa em repouso, na areia banhada pelo fluir das ondas, todo o discurso enfeitado de frases descoloridas pelo tempo. Não sou mais criança e esqueci, isso sim, do tempo que fui.

Tenho as mãos escondidas, inventei de sorriso triste, para afastar todo o lixo do mundo, do vómito das caras lisas, das pedras que nos rolam estrada abaixo, aos tropeções. Gestos e pensares que não me podem prender e muito menos degradar, nem mesmo em força, pois dela precisaria demasiada. A fumaça sussurra, recheada de receios e medos e, talvez por isso, ninguém consegue ouvir, nem mesmo nesse negrume, impossível criar nome, com imaginação ou na consulta de alfarrábios, nem nos livros riscados e chorados, nem nos trigais que as nossas vontades semearam. E a vida, na vertiginosa lentidão, anda para a frente, umas vezes triste, outras cintilante e quantas vezes com a força da insanidade, fora do compasso.

As sementes, que as mãos em ritmo certo lançaram e os ventos espalharam, cresceram com o adubo das nossas vontades, aquelas que não se sustentam para além das palavras. Fica apenas o ténue desejo de arrancar uma lasca frágil de felicidade de um coração distante. E aqui me vergo apenas a uma só lei: Amor!

14 comentários:

SL disse...

Adoro as tuas cartas...esta tua força da lei é também a minha. Obrigada pela visita. Adicionei-te lá em casa...quem tem uma lei como a nossa só isso merece.
Jinhos e parabéns.

Mitsou disse...

"Nos teus olhos todos os diálogos ditos em surdina..." Quantas vezes essa lei se impõe num simples olhar, num gesto furtivo, no toque casual de dedos ansiosos que, disfarçadamente, nos afastam do rosto uma madeixa rebelde! Suave e doce como é, cumprimo-la na aquiescência de quem lhe reconhece plena autoridade. Belíssimo hino ao Amor, Alexandre. Um beijinho de gratidão pelos momentos lindos que nos ofereces.

Anónimo disse...

Agora sim, pude ler-te serenamente. Lindas e tão sinceras as tuas cartas...Continuação de bom fim de semana :-)

Cris disse...

Não dá para perder mais tempo, é hora de assinar a poesia e clamar aos ventos e sussurrar ao teu ouvido, que não esqueci as memórias gravadas a fogo de todos e cada instante que nos deliciaram.

E aqui me vergo apenas a uma só lei: Amor!

Este texto é sublime, mas ainda q mais nada dissesse, estes dois pedaços já diriam tudo!...
É extraordinária a forma como escreves e nos embalas nas tuas palavras...
É delicioso ler-te, Alexandre!

Beijinho imenso

Margarida V disse...

olá

adorei o blog e os teus textos.
voltarei sempre para ver as novidades. :)
gostaria de pôr o teu link no meu blog se te parece bem diz-me qualquer coisa.
fico á espera da visita.

Anónimo disse...

Alexandre, ainda bem que apareceste. Gostava que voltasses mais vezes.
Neste momento, enquanto trabalho, oiço a música que aqui tens..e lerei o que fores escrevendo...sempre.
Um beijinho

Mitsou disse...

Voltei para te agradecer a visita. Sabes que, embora o meio de comunicação entre nós seja o computador, imagino-te sempre a escrever numa folha de papel com essa tal caneta (que adoras)? E vou continuar a imaginar-te assim, está bem? Beijo grande, Alexandre, e bom fim-de-semana.

Conceição Paulino disse...

è uma ei a k (creio) ninguém escapa, emso qnd jlga o contrário. Diverso é só ela se obrar. Bj grande de f.s

Unknown disse...

Ainda bem que te localizei, vim encher o meu peito com as tuas lindas crónicas, felizmente que te localizei, parabéns pela escrita. Beijos

Mitsou disse...

Venho deixar um beijo grande e cheio de saudades, Alexandre.

SL disse...

Por onde andas? Vai dando noticias...
Jinho

Cris disse...

Tenho saudades de te ler... :(

Beijo

blimunda disse...

* Afinal quem és e como foi a tua aprendizagem a amar da forma que eu amo? Talvez seja a medida com que venho medindo. A palavra que espera um complemento. * anda lá, volta para nós...

Cris disse...

Aiiiiiiiiiiiiiiiiii!