sábado, fevereiro 26, 2005

Dúvidas

Transporto comigo a tua marca,
Que jamais posso apagar.
Feito tatuagem...
Como uma marca de nascença,
Com jeito de eterna.
Para sempre,
Apoderas-te da minha alma,
Desordenas meus pensamentos...
Em alguns momentos somos dois,
Em outros somos um só!
Afloras-me dos lábios,
Transbordas na minha alma,
E te fazes sentimentos...
E assim, colada a mim,
Tu roubas o meu perfume,
Emprestas o meu brilho,
Bebes da minha água,
E aprisionas o que há de melhor em mim.
Estás livremente presa a mim,
Como se minha pele fosses...
Confundimo-nos um no outro
E já não posso saber,
Onde começo eu...
Onde terminas tu...

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Tanto mar…

Amantes feito o mar e a areia
Todo dia o dia todo aquele vai e vem
A maré enche e tu me invades por todos os lados,
Cheio de amor,
Desejo e calor!
Sinto o gosto do sal no teu corpo mar,
Quando me tens num abraço eterno,
Tuas águas refrescam meu corpo areia ardente de paixão,
E, sem resistência alguma me deixo invadir por tua presença única
De repente, sem aviso, bilhete ou sinal,
Vai embora, feito a vazante da maré,
E eu permaneço areia húmida a esperar por ti.
Em meio ao temporal retornas,
Mar bravio, arisco, selvagem...
Faminto de sua areia amada.
Tuas ondas quebram em vagalhões
E avançam com urgência meu corpo areia...
Sinto tua língua quente e indecente por toda minha extensão
E novamente o amor explode inundando tudo em volta,
O amor tempestade cede lugar à calmaria...
E recomeçam as carícias do mar na areia.
Ele espalhando-se sobre ela,
Como se quisesse engoli-la inteira.
Areia tão quente e carinhosa,
Guarda para o mar o calor do sol...
E o recebe num amor plácido...
Num abraço doce,
Oferecendo-lhe sua paz,
E sua fonte inesgotável de calor...
Num mar de amor!!!

domingo, fevereiro 20, 2005

Tão simples

Eu não era doido assim...
Mas acho que estou ficando doido sim!
Entrei pela janela do teu coração,
Entrei porque as encontrei escancaradas...
E não resisti à tentação de te trazer para a minha loucura privada.
Tão simples assim...
Uma noite quente de verão,
Uma janela aberta no coração,
Sedento de todos os sentimentos,
Sem nem ao menos pensar, entrei querendo ficar...
Querendo libertar o que está preso em mim.
Sem compromisso, dia ou hora marcados...
De um jeito deliciosamente irresponsável,
E arrebatadoramente adolescente,
Como um banho de chuva de verão...

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

O trilho

Esquece todas as cartas que enviei. Para hoje nada resta e esta não é a carta. Apenas um pedaço mais e desta janela atiro para longe, até onde o vento a levar.

É do meu, do teu, do nosso conhecimento. Esta é a parte que agrega a parte que somos, de todas aquelas desmemorias que nos servem, da falta de vontade de levantar bandeiras a todo o momento, o brilho que ofusca de um vestido sob o sol de meio-dia, o vermelho fogo. Aquele trilho nunca percorrido, o caminhar perdido numa floresta de sentidos.

Há algo aqui dentro explícito, não me recordo bem onde. Eu sei. Ah, se sei! Vivo de todas as coisas e nelas me fantasio. Não há medida segura, nem história, não há o que ser apagado, nem redito. Existe apenas e isso basta, passa, de uma forma estranha. Esquece todas as cartas, como esquece o trilho. Talvez precise calar tua boca com corpos e palavras, mas aqui reconte e fica a história.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Nu me quedo

Nu em lençóis de seda...
Vermelhos de paixão,
Nu repouso na delonga,
A meu lado o vazio da ausência...
Inexistência do corpo dela.
Nu à luz de velas...
No ar o cheiro da noite fresca,
E o perfume dela.
Corpo cansado, sedento...
Amante.
Nu à espera do amor sublime,
Corpo entregue ao poder do desejo...
Nu a desejar...
A presença dela,
Corpo suado,
Imaginação fértil,
Gemido aflito...
Às vezes contido,
Perdido...
Momento de prazer...
Alívio da alma...
Coração entregue,
Espírito completo!

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Enseada

Passei hoje por um muro, grande, alto, cor de terra, onde uma serpente quieta e brilhante descansava sobre sua própria sombra pequena. Não sei se ocorreu hoje ou se terá sido ontem, não há como medir um tempo que nem tempo teve de ser tempo. Talvez esta também não seja a carta, e o tempo descansa pacífico naquela cadeira opaca e disforme, onde é de seu gosto descansar. Por aqui se quedava por este instante contando uma história comprida, mas desapareceu como sempre desaparece.

Existe algo aqui dentro e eu sei. Aquele colar de safiras, imitação quase perfeita e uma pintura de cores e riscos, um trigal com imagens, a noite recheada de nossos segredos, o fogo como os cabelos, e o mar e muito mais.

Existem memórias dentro das desmemorias que nos cuidam, existem preciosidades discretas, o silêncio que fala mais que todas as palavras ditas, e os corpos dialogando em surdina. Recordo as faces rosadas, os olhos iluminados e a felicidade despida de roupas, lembro das curvas, dos pêlos, dos cheiros, esqueci as cartas, preciso dos corpos. Na enseada do meu silêncio descobre e guarda as vontades.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Maresia

Nem sequer reparei o sono chegar...
naquele instante seguinte
vejo-me entre as pequenas dunas a caminhar
eu conheço o caminho
que me leva a ti
meu porto seguro, meu ninho

Caminho descalço na areia fresca
à noite, sob o céu estrelado
meus cabelos revoltos bailam
ao vento ditoso

Meu olhar é distante
miro o mar, reflexo dos meus olhos
e meu destino encontro naquele instante

Desconheço que lugar é este, não conheço
mas tem algo de eterno
e ali, tão perto, te reconheço

De um instante ao outro
estamos mais perto, somos dois... somos um.
Sagrado e desejado encontro
encontro sem palavras...
num doce beijo te trago para mim
enleio que a minha alma lava.

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Aqui eu não fico

De aromas divinos eu busco mas me quedo nos silvestres, pois eles me fazem recordar o teu corpo por onde deixo que as pontas dos meus dedos percorrem em terno deleite. Procuro descobrir o que já conheço, sentir o pulsar de todos os sentidos ternamente despertos.

Recordo cada instante, cada peça de roupa atirada ao abandono, como foi o abandono em nossos braços. O respirar de nossas bocas entreabertas, sôfregas de nossas línguas. Teu corpo em oferenda de cada espaço, o querer sentir muito para além dos tremores sem temores. Aquela entrega de não se saber quem é quem. Aquele perder do norte no percurso do teu corpo.

Procuro aquietando a espera e recuso a perda das imperfeições que se espalham no areal das nossas vontades e dos trilhos farei minha estrada, meu caminho, meu destino. Aqui eu não fico. Quero mergulhar no último dos oceanos.

Se hoje acabasse o mundo...

Se o mundo acabasse hoje e se eu tivesse tempo, escreveria uma carta.

O que nela escreveria eu não sei, a quem a dirigia muito menos, mas uma coisa eu sei, escreveria uma carta.

Desenharia cada letra em traços finos e arabescados, de modo a unir-se com a seguinte e logo a seguir com outra para que formassem uma palavra. O que diria ela pouco importa. O importante era estar ali, esperando uma outra, para juntas irem ao encontro de muitas mais.

E assim, a par e passo, escreveria uma carta se hoje acabasse o mundo.

Hoje a caneta não corre, a imaginação não voa, as palavras não se juntam, as frases não têm sentido. Nada mais tem sentido.

Não quero conquistar as estrelas e muito menos alcançar a lua. Não desejo atravessar os oceanos e nem sequer escalar montanhas. Os sorrisos, deixo-os embrulhados em papel prata junto a uma árvore de um jardim qualquer e os beijos que se escaparam numa memória perdida. Nada quero, nada desejo.

Deixem-me aqui, só, apenas só, uma caneta e umas quantas folhas de papel. Nada mais. Será pedir muito?

Palavras...

Se nada mais tenho do que palavras derramadas com espaços e vírgulas, distâncias cada vez maiores, incertezas que, em cada dia que passa, mais profundas são, é o momento de procurar numa praia distante, aquecida por este sol de Inverno que teima em ficar, a canção que é urgente eu cantar.

Ao enlaçar a tua cintura, para um voltear de uma valsa, ganho coragem e rasgo o véu que tapa a tua nudez. Que seja plena e bela numa dádiva exigente. Só que quando o véu cai a meus pés, apenas fica o vazio. Um vazio cheio de coisas por dizer, de sentimentos que não passaram de fugalhas etéreas que um simples sopro de dúvida dissipou por completo.

Fiquei…

Ouvi o teu chamado, a vontade de encurtar distâncias, o caminhar para um encontro desejado, a tua voz subindo de tom, as palavras que trocamos em silêncios que nos enlaçaram.
Mas eu fiquei quieta no meu canto.
Senti o desejo de partir numa corrida sem parar, o sorriso que por fim coloriu meus lábios, os meus seios estremeceram de um prazer antecipado, quis deitar-me contigo naquela praia por descobrir, sentir as ondas espraiando-se pelo meu corpo.
Mas eu fiquei quieta no meu canto.
Os teus braços estendidos, as tuas mãos abertas, os teus dedos suplicando e, dentro de mim, a vontade cresceu.
Mas eu fiquei quieta no meu canto.
Levantei-me e corri. Tinha urgência de cair em teus braços, aconchegar-me no teu corpo, sentir o teu calor, saborear os teus lábios sugando os meus, lutar contra a tua língua, mas acabando por ceder o espaço, abrir-me numa oferta. Procurei-te no horizonte. Dobrei esquinas, percorri ruas, espreitei vielas. Não estavas mais.
E eu voltei a ficar quieta no meu canto.

Tempo parado

Ouvi em silêncios envolvidos nos desejos a custo dominados, a súplica de um abraço que fosse, com toda a profunda simplicidade, o natural prolongamento dos nossos corpos, a invasão de um espaço vazio, o querer contrariar as leis que a física ordena.

Queria assistir contigo o acordar da lua num leito de ondas. Percorrer no imaginário uma espera que não acaba nunca, eliminar a distância que nos separa, correr contra o tempo e recuperar um tempo que desbaratei algures. Ter paciência para esta tamanha impaciência. Esquecer tudo, esmagar entre os dedos uma razão que não queremos ouvir, que nada nos diz e que apenas nos faz sentir vazios.

Queria-te sentada no meu colo e, num afago leve, nossos dedos enlaçados, sentir no meu pescoço o rendilhado da tua saliva. No suave adormecer dos nossos sentidos, permitir que sejamos penetrados de amor, até às miudinhas veias em êxtases intensos.

Inventa mentiras que sejam as nossas verdades, solta olhares que escondam os nossos sorrisos, fabrica um tempo que seja apenas o nosso, escolhe o local, encurta a distância. E vem. Vem, porque ambos sabemos como parar o tempo…

Esta noite…

Recuso gritar aos ventos toda a poesia que de mim emana, porque não sou poeta. Prefiro o sonho de, em cada recanto escondido, em cada saliência oferecida, do teu corpo a meu lado estendido, unir cada contorno no leve roçar dos nossos ventres. Desejo que nossas mãos se movimentem ao som dos nossos sussurrados gemidos na procura do que os nossos sentidos já há muito encontraram. Quero fluir nos teus braços a poesia que não desejo apregoar porque em teu regaço a desejo confiar.

Esta noite quero apenas dançar em teu corpo nu num rodopiar sem sentido, nossas bocas unidas e nossas línguas lutando por um espaço conquistar. Não desejo apenas sentir o amor que nos une, mas viver cada frémito em segundos infindos, como se fossem eternidades.

No agonizar do teu corpo quero encontrar a gota da vida que faz palpitar os nossos corpos unidos. Quero em teus seios repousar ouvindo os ventos soando e que a lua ilumine o âmago dos nossos desejos numa espera ansiosa. Cantaremos a uma só voz cada compasso em suspiro e numa dança ritmada nossos desejos subirão nas ondas do mar até desaguarem em ti e de ti.

E mais uma vez atiramos, com toda a força do nosso amor, toda a razão que ordena uma vontade que nos ultrapassa. Apenas com o sorriso do nosso olhar e a nossa voz distante, até ao momento que seja o instante.

Abandono

Ficaram longe os limites que a razão ordena, lançados no espaço sem limites pelo enlace dos nossos sorrisos, pela ternura dos nossos beijos, pelo nascer de algo estranho em nossos corações, como se de um desabrochar se tratasse. Ou seria um acordar de um, cujo nome escondemos e há muito adormecido, o desbravar de um sublimado há tanto esquecido?

Quando fui banhado pela doçura do teu olhar, no momento leve de acordar, não resisti e aproximei meus lábios aos teus. Do beijo que trocamos, do ligeiro frémito que percorreu nossos corpos, foram escritas numa folha de papel pérola as rimas de um poema e nesse instante nossas almas mergulharam em deleite no mais profundo sentir.

O amor que percorreu as nossas veias e dominou todos os nossos sentidos, os gemidos que se misturaram com o ronronar das ondas espraiando-se na areia, os nossos corpos se elevando nas asas do nosso sentir, finalmente desperto.

Quando, de pés descalços, abandonamos a praia, de mãos unidas, dedos entrelaçados, foi nossa a certeza de que o universo era pertença nossa, o nosso espaço onde sempre nos ajoujaremos. Para a mágica de um sempre que não sabemos quando.

Frémito

Na alcatifa macia
entrou na agonia
uma rosa sedenta e abandonada

E a ambos nos invade
a mística vontade
de entrar na morte, no não ser, no nada

Na atmosfera morna
o teu corpo entorna
um perfume subtil, sensual, complexo

Por mil temores

No comungar de um silêncio com desejos de partilhar, no seguir do fumo de um cigarro imaginário, no canto escuro de uma esplanada deserta, nos instantes de solidão procurada, reflexão e pensamento dominam os meus sentidos.

Um desejo cresce; que todo um passado sem histórias derramadas se dissipe com a mesma rapidez que o fumo do cigarro que não fumo, para que desta forma, virgem de ideias e sentidos, possa, a teu lado, caminhar, passo a passo, de pés desnudos, até ao amanhecer, ofertando à noite o amor concebido na união dos nossos sorrisos.

Não procuro um nome, embora sempre balbucie em surdina o teu, mas a imagem de alguém que um dia se atreveu a sonhar, de remanso olhar, sorriso liberto de criança com a ternura do agitar de uma pétala pela brisa suave de um fim de tarde.

Quando, nos meus braços, repousas, de olhos cerrados, a languidez de um abandono, naqueles instantes tento não respirar para não perturbar a tua entrega e percorro cada curva do teu corpo. A tua boca pequena, cujos lábios um artista um dia, de sublime inspiração, desenhou, levemente entreabertos, com promessas de venturas que não quero descobrir, não hoje, não amanhã, mas, quem sabe depois. A tua voz, que em silêncio se faz ouvir, é o calor que aquece o Inverno interior que há tempos infindos transporto.

Perde-se no labiríntico dos meus desejos se a tua imagem surgiu numa manhã de sol ou se numa noite de estrelas, se foi um acaso que nos colocou frente a frente ou apenas o capricho de uma vontade superior, ou simplesmente porque afinal, as palavras ganham vida e sentido. Serão elas que nos prolongam muito para além dos sentidos? Talvez a resposta venha embalada na espuma das ondas quando beijam as areias.

Poderia, no teu leve adormecer, a tua cabeça repousando no meu peito, colocar nos teus lábios a ternura de um beijo, mas não o faço por mil temores de quebrar o encanto.

Em silêncio

Ali, na praia deserta, olhando para a areia molhada, descubro as marcas de uns pés descalços. No ar, misturado com a maresia, o aroma de um perfume meu conhecido, cuja marca sempre me escapa, mas na hora de te oferecer acabo por acertar. Sempre sorris quando ofereço o teu perfume preferido, pois sabes que eu nunca decorei o nome. Não preciso, ele tem o teu nome. Um segredo que guardo e partilho sempre com o teu sorriso. Não quero nunca perder esse sorriso.

Eu sei que não sou mais do que uma simples invenção em horizontes reinventados, uma imagem retida em fugazes instantes de silêncios partilhados, pequenas migalhas que esvoaçam pelos trilhos desenhados do éter. Sou o fruto de uma semente germinada no subconsciente da tua consciência que tenta, em desespero, desabrochar na nudez dos sentidos. Contigo e em ti, as correntes se libertam e a melancolia, derramada na areia molhada é levada pelas ondas que se espraiam na areia mas, para minha felicidade, não conseguem chegar às marcas dos passos que, indeléveis, deixaste.

Quedo e em silêncio. Aguardo a caminhar dos passos descalços, o encurtar de distâncias…

Desejo

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Desejei nas asas leves das velas partir,
para nos braços do meu amor cair.

Vou ficar

Num caminhar solitário acompanhado, por ruelas esquecidas da vida, em tempos que a memória não prende, nos silêncios que nos ensurdecem, foram os instantes que construíram o encontro que foi nosso. Os nossos olhares se cruzaram através da palavra escrita, frases que nos transportaram através de espaços etéreos, num mundo construído por muitos mundos. Foram toques, foram tempos, foram esperas em dias seguidos de outros, aqui, neste mesmo local os nossos olhares se encontraram, apesar de não verem o sorriso que trocaram.

Num lugar prosaico de um parque de estacionamento que de repente se transformou no mais lindo jardim que a primavera criou, foi ai o encontro onde, as nossas mãos, ultrapassando as nossas vontades se uniram, de dedos entrelaçados, os nossos lábios se abriram e nossas bocas se uniram e, nesse instante descobrimos que a realidade dos sentidos tinha ultrapassado os sentidos das palavras.

Quando os nossos corpos se uniram no interior do nosso imaginário, não foram apenas as roupas que despojamos mas todas as realidades que, naqueles instantes, atiramos para o esquecimento.

Voltarei. Voltarei sempre para junto de quem nunca deixei. Não por uma cama, não por um orgasmo conquistado, não por um gemido libertado, mas apenas porque a vontade do querer assim o ordena. Eis-me aqui. Vou ficar por todo o tempo que o tempo desejar.

O nosso imaginário

Foram palavras, sons ou apenas um simples olhar que, no nosso imaginário de momento, se travou o nosso conhecimento? Uma pergunta que, de uma forma constante, povoou o meu consciente até ao instante em que, naquele quarto do motel, me tiraste a primeira peça de roupa. Se incertezas haviam, quando a minha blusa caiu displicente nas costas da cadeira, desapareceram por completo. A ternura de cada gesto, a delicadeza de cada movimento até ao momento em que, frente a ti, fiquei nua, e o teu olhar de amor, percorria docemente o meu corpo, senti que afinal já te conhecia há muito, muito tempo. Num outro espaço, num outro tempo, numa outra vida.

Fui tua naquela cama redonda, numa entrega em súplica de desejo, sem limites, desejando que o tempo parasse naquele momento. Esqueci meu corpo, minha timidez, meus complexos e absorvi todo o vibrar do teu corpo.

Aqui, neste espaço, não quero desvendar cada gemido, cada ai sumido, cada agonizar de um prazer que ultrapassou todos os nossos sentidos. Quero apenas dizer que estou presente a teu lado para um sempre que até pode um simples amanhã, um até mais ver, um até qualquer dia. Só peço uma coisa quando voltares, se voltares, que não seja apenas por causa de uma cama redonda.