terça-feira, dezembro 20, 2005

FELIZ ANO NOVO

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Que todos os desejos, mesmo os mais simples e insignificantes, mas sempre tão importantes, se realizem em pleno, em 2006.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Fim de semana inesquecivel

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Não tenho complexos quanto à minha formação. Arranquei uma licenciatura a ferros em psicologia, que nunca cheguei a exercer, jamais me passou pela cabeça fazer uma pós graduação e muito menos um mestrado, fosse do que fosse. Naquele momento arrependi-me amargamente de não o ter feito. Durante toda a noite enfrentei um mestrado em sensualidade amorosa e um doutoramento em sexo contorcionista. Tudo contra o meu auto didactismo. Valeu-me a minha capacidade de aprendizagem rápida e a faculdade que sempre tive em me adaptar às situações mais exigentes. Tinha algo a meu favor: seja qual for a formação, a capacidade imaginativa acaba sempre por dominar. E momentos houve em que dominei. Tirei o meu mestrado. Confirmei o meu doutoramento. Aclamado com distinção. Exigência do repetir. Mas aquele dominar cedendo que nos faz tremer, estremecer, fechar os olhos e deixar-se ir. E todos os outros momentos. Foi sempre do meu apreço aquele principio, uma vez eu, outra vez tu e quando o milagre acontece, porque não ao mesmo ritmo e tempo. E depois a igualdade é muito bonito e nunca fez mal a ninguém. Não sei se bati o meu recorde, na verdade nem mesmo sei se tenho algum recorde, mas que perdi a conta, lá isso perdi.

Acordei com o sol batendo-me na cara. Acho que não cheguei bem a dormir duas horas. Ora, para dormir há sempre tempo!

- Foi o sol que te acordou? – Perguntou, deitada a meu lado. – Durmo sempre de persiana aberta. Deu para descobrir.

- Foi o sol e uma fome danada. – Respondi. Na noite anterior o jantar tinha sido leve. E depois o exercício físico sempre me abriu o apetite.

- Será que ainda aguentas um bocado? – Um sorriso completava a pergunta.

Podem não acreditar, mas senti o meu corpo tremer todo. Não passo de um homem perfeitamente normal, não possuo nenhuns super poderes e não suporto sequer a ideia de ouvir: não tem importância, querido, isso acontece. Sentia-me esgotado, vazio e sem forças para fazer qualquer movimento. A não ser que se esteja casado há mais de dez anos, ninguém tem a coragem de dizer isto a uma mulher linda, perfeita e deitada nua a nosso lado. Rodei o corpo, estendi um braço e nos beijamos.

Mais uma vez mostrou que se tratava de uma mulher refinadamente inteligente e de fino trato. Deixem para lá os pormenores, mas aquilo que eu pensava que só depois de uns bons quinze dias de absoluto repouso é que voltaria a dar acordo de si, eis que, sem qualquer constrangimento ou timidez, não se fez rogado e grita presente. Compreensiva, encarregou-se ela de todo o trabalho, se é que tal palavra se deve empregar. A mim restou-me estar presente. Uma presença suavemente participativa. O cansaço não me permitia os ímpetos da noite anterior. Deu para cumprir e não deixar os créditos por mãos alheias.

Foi um fim de semana absolutamente inolvidável. Jamais faço projectos, mas acho que, em dado momento, fiz alusão a um futuro qualquer. Coisa leve, quase imperceptível, mas que foi o suficiente para me preocupar. Foi algo de instintivo. Não gostei. Felizmente ela não o entendeu como tal ou se entendeu fez de conta que não, e a coisa passou em branco. Atirei as culpas para o cansaço.

A nossa despedida do fim de semana decorreu durante o jantar num pequeno e acolhedor restaurante em Cascais. Enquanto pousava na mesa o copo de água, depois de ter bebericado uns pequenos golos, disse-me que no dia seguinte, às cinco da tarde, apanhava o avião para os Estados Unidos. Fora convidada para uma faculdade e pensava montar arraiais por aquelas bandas. A notícia fora de chofre e, no primeiro segundo, não reagi. Em boa verdade, que raio de reacção é que eu haveria de ter? Fiz perguntas de circunstâncias e durante a sobremesa desejei-lhe um mundo de felicidades. Recebi um convite para a visitar e a promessa que me escreveria.

Deixei-a à porta de casa e ali nos despedimos. Não fui ao aeroporto. As despedidas naquele local sempre me angustiam.

Já passaram sete meses e até agora não recebi nem sequer um simples postal. Cá no meu intimo também não esperava receber. Acho ser esta a razão, pela qual não consigo recordar-me do nome dela. Sou capaz de repetir palavra por palavra, todas as nossas conversas, descrever com precisão cada curva do seu corpo, cada marca na sua pele, cada gemido, cada sorriso, mas não consigo recordar como era mesmo o seu nome. É tão estranho este esquecimento que muitas vezes sou assaltado pela dúvida, se ela alguma vez, me tenha dito o seu nome.

Na próxima, nem que tenha de tirar fotocópia do bilhete de identidade. Juro que não vou esquecer.

sábado, dezembro 10, 2005

Fim de semana inesquecivel (4)

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A pontualidade, para mim, é um ponto de honra. Talvez seja uma qualquer costela britânica, resultado de algum devaneio de um antepassado meio, que não tinha coisa melhor do que escolher uma inglesa. Se tal for, não passa de uma bastardia, pelo que não me vou dar ao trabalho de consultar a árvore genealógica. Eram oito em ponto quando o dedo indicador premia o botão do sexto esquerdo, do número 27. Por razões óbvias, dispenso-me de referir a rua. Com um estalido a porta abriu-se. Perguntar quem era, para quê, se estava ali câmara a transmitir para um pequeno ecran a minha cara. Apanhei o elevador, rápido e silencioso. O do meu prédio range por todos os lados em sinal de sofrimento em cada subida e descida. Só mesmo os corações fortes, é que conseguem utilizar aquela geringonça.

Não foi preciso tocar novamente, pois mal me aproximei, esta abriu-se. Recordava os olhos azuis, o cabelo loiro e as coxas perfeitamente modeladas. Todo o resto estava um pouco confuso na minha memória. Naquele momento refresquei a memória e regalei-me. Ela tinha tudo o que eu, lá muito no meu íntimo, gostava de ver numa mulher. Suavidade na maquilhagem, cabelo penteado a transmitir liberdade e uma vontade louca de passar os dedos, um vestido de linhas simples a moldar o corpo, mostrando os bicos dos seios e duas finas linhas em forma de V, indicando a única peça íntima. Tudo o resto, promessas. Um mundo de promessas!

- Vou buscar a bolsa. – Disse, franqueando-me a entrada. Fiquei sem saber se a devia seguir, ou ficar ali. Limitei-me a dar dois passos e aguardei. Nem sequer fechei a porta. Vá lá saber porquê.

Ainda hoje estou para saber como é que eu consegui conter-me, enquanto descíamos no elevador. Jesus, aquele perfume!

Sugeri um restaurante muito simpático, com um serviço excelente, vista para o rio, ali para os lados de Santa Apolónia. Um jantar suave. Não, acho que não foi um jantar romântico. Conversamos sobre tudo, rimos com discrição que o lugar exigia e usufruímos do prazer um do outro. Posso dizer que se tratou de um jantar perfeito.

Um passeio pela marginal, a noite convidava, um copo num pequeno bar da praia e o regresso. O principio do fim de uma noite maravilhosa. Benditos pés doridos!

Jamais resisti a um convite embrulhado com um sorriso. Claro que aceitei o pouco imaginativo, último copo. Voltamos a utilizar o elevado, entramos em casa e acedi à sugestão de me pôr à vontade e, de uma forma displicente, coloquei o casaco nas costas de uma cadeira e desapertei o nó da gravata. Refastelei-me no sofá e aguardei.

- Vou preparar as bebidas. Disse. Cá no meu íntimo, achei que era apenas um modo de falar. Recordo que, durante o serão ambos termos reconhecido que não éramos muito apreciadores de bebidas alcoólicas.

Puro engano. Dois copos, balde de gelo e uma garrafa de “Martins”. Lixei-me! Há três coisas às quais tenho uma tremenda dificuldade em resistir: Livros, mulheres e “Martins” vinte anos. Obviamente nem sempre por esta ordem.

A… não acredito! Continuo a não saber como era mesmo o nome dela. Uma coisa eu tinha de reconhecer, além de uma mulher muito bonita, com um corpo de deixar um pobre diabo como eu, sem respiração, era uma excelente conversadora. Engenharia de gestão e já com um mestrado no seu currículo. Se alguma vez me passou pela cabeça aquele hábito já tão cansado, da loira com um livro de arte gótica só por causa das imagens serem bonitas, após os primeiros cinco minutos de conversa logo se dissipou. Para os seus 34 anos. Até que não estava nada mal servida. Portanto, aquela afirmação de estar a folhear um livro de arte gótica apenas porque as fotografias eram fascinantes, não tinham passado de pura treta. Claro que não gosto de, enquanto faço amor, dissertar sobre engenharia financeira. Mas como não fumo, até que pode ser um tema interessante nos intervalos.

Saboreamos as bebidas que não ultrapassou, nem no meu nem no dela, um dedo de altura, falamos de futilidades, brincamos com as pedras de gelo nos copos e fizemos silêncio durante breves segundos, olhando um para o outro. Levantou-se, estendeu-me uma mão num leve e suave convite e sorriu. De mãos dadas, acompanhei-a até ao quarto. Caímos nos braços um do outro e nossas bocas se uniram. Gosto de luta, mas acabo sempre por ser vencido, a sua língua conquistou espaço e, irrequieta, se divertiu. As mãos percorriam os corpos, não sabendo exactamente à procura de quê.

Afastou-se um pouco, o suficiente para que eu, apenas com um simples movimento de olhos pudesse admirar todo o seu corpo. Com a ponta dos dedos afastou as alças do vestido e, com um leve, quase imperceptível movimento de ancas, fez com que o vestido descesse suavemente, afagamento o seu corpo, até ficar a seus pés. E ficou. Ali, Parada. Sorrindo apenas. Oferecendo a meus olhos toda a beleza do seu corpo. Os bicos dos seios fitavam-me de frente, desafiadores. Depositei em cada um deles, um beijo. Acho que foi isso que fiz, mas não posso jurar. Moveu-se lentamente e deitou-se na cama. Pura poesia em movimento.

Sei que nos filmes, o herói fica nu em dois segundos. Eu levei um tempo dos infernos para arrancar a porcaria da roupa. (Continua. Está quase.)

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Fim de semana inesquecivel (3)

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Abriu porta dos bancos traseiros do seu Peugeot 407, sentou-se numa ponta, tirou os sapatos e colocou as pernas em cima do banco. Dei a volta e abri a outra porta. Olhei em volta numa tentativa um tanto desesperada, de encontrar uma posição relativamente cómoda. Logo conclui que, na vida nada é fácil e tudo tem que ter um preço. Lá consegui encontrar uma forma de executar a árdua tarefa de massajar os pés da coitada, à custa, diga-se, de uma boa dose de dores nos rins. Creme, massagem e a visão de umas coxas perfeitas e, lá no fundo, um triângulo branco, ligeiramente transparente.

As massagens, para mim, são sempre um campo por descobrir. Quero dizer que não sou nenhum perito, mas tenho sempre uma tremenda disposição para aprender. Ai, esta minha fome de sabedoria! Por vezes faço descobertas sensacionais, outras cedo à tentação de explorar novos horizontes e, de quando em vez, tenho a sorte de encontrar alguém disposta a ensinar. Nestas circunstâncias sou sempre um aluno atento e esforçado. Só que, nessas ocasiões, tenho uma posição mais cómoda. Confesso que não tenho memória de alguma vez ter ficado com uma terrível dor nos rins. Num dado momento, a dor era tão aguda que a minha vista ficava turva e eu não conseguia ver com nitidez até lá ao fim. Paciência, não se pode ter tudo.

Mas que raiva! Como é mesmo nome dela? Deslocou aquelas duas belezas para baixo, calçou os sapatos e saíu do carro. Pelo meu lado, endireitei-me e, disfarçadamente, esfreguei os rins. Reconheço que não sou bom de rins, mas sempre me desenrasco no jogo de cintura.

Como tudo aquilo me pareceu um tanto estranho e com uma boa dose de exotismo, desde o primeiro sorriso até àquele momento, não consegui projectar para um futuro imediato o que poderia vir a acontecer. Desde o tempo em que dançar era um exercício executado por dois corpos bem juntinhos que sei que a melhor coisa a fazer é seguir o compasso da música, não pisar os calos do parceiro e, se possível, dar ligeiros apertões, de modo disfarçado. Pois que assim seja. Dei a volta ao carro e fiquei junto dela.

- Será que nos podemos encontrar de novo? – Perguntou.

Perguntar ao esfomeado se quer comer… Só uma resposta possível, onde, como, quando, pode ser já? Claro que não foi nada disso que disse. Afinal, que diabo, sou um cavalheiro.

- Terei nisso o maior prazer. – Respondi com o melhor e mais fascinante dos meus sorrisos.

- Tenho de o compensar por todo este trabalho. Será que posso convidá-lo para jantar?

Naquele momento, a uma velocidade superior à da luz, passou pela minha mente mais de um milhão de formas de me compensar. No final, fiquei-me por umas duas ou três. Também não convém ser exagerado.

- Mas claro que sim. – Respondi. – Qual é o melhor dia para si? Hoje é quarta, que tal na sexta?

- Para mim está óptimo. Telefona-me, marcamos a hora e espero por si.

- Combinado. Na sexta telefono-lhe. Mas posso fazer mais logo, só para saber como estão os seus pés. – Quem não arrisca não petisca. Aquiesceu de imediato e eu fiquei a vê-la a ir-se embora. Na minha mão um pequeno papel com um número de telemóvel.

Ainda fiquei ali por mais uns instantes parado, sem saber se havia de voltar para a Fnac ou se me metia no carro e ía embora. Resolvi pela segunda opção. Duvido que conseguisse a necessária concentração para prosseguir a leitura. Só que, por uma questão de respeito pelo trabalho de cada um, decidi num ápice, comprar o livro do Paul Auster. Não seria decente começar a ler um livro e não ir até ao fim. Sou muito rigoroso no que se refere a livros. Ora, uma pessoa pode ter as suas manias. Eu cá tenho as minhas.

Ao serão peguei no papel e comecei a marcar o número, mas parei a meio. Não estaria a ser precipitado? Mas ela aceitou a ideia de lhe telefonar mais tarde. Não queria transmitir uma ideia de que estava ansioso por voltar a ouvir a sua voz. Esta minha impaciência, um dia, ainda me causa dissabores. Que se lixe. Completei a marcação e aguardei até ser atendido.

Uns minutos de conversa sem grande sentido, uma ligeira referência aos pés e ao valor terapêutico do creme, um breve agradecimento à minha massagem e a promessa, que ambos sabíamos que nunca será cumprida, de ter mais cuidado na próxima vez que comprar sapatos. Culminou tudo isto na confirmação do encontro para sexta e uma pergunta da minha parte se poderia telefonar no dia seguinte. Mais uns quantos minutos, poucos, ocupados na troca de simpatias, sorrisos e piropos. O trivial.

Confesso que estou a sentir-me mal. Chegar a esta altura dos acontecimentos e continuar sem conseguir lembrar-me do nome dela é, no mínimo, confrangedor. E já perdi a conta aos inúmeros exercícios de mnemónica e nada. Já referi o sinal de nascença, em forma de losango, dez centímetros e quarenta e quatro milímetros exactos, abaixo do umbigo? Pois já. (Continua. É chato, mas tem de ser)

sábado, dezembro 03, 2005

Fim de semana inesquecivel (2)

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- Aprecia arte gótica? – Perguntei, apontando para o livro.

- Isto? Não. Tem é umas fotografias espectaculares. Foi apenas um pretexto para me sentar um pouco. São estes sapatos novos que me dão cabo dos pés. – Disse, com um sorriso de parar o trânsito.

Naquele momento o Paul Auster foi dar uma curva, mais o seu Inventar a Solidão, com a secreta promessa de, mais tarde, comprar o livro. O que acabei por fazer. É que eu jamais fico indiferente a uma mulher dorida.

- Conheço um creme, produto natural, que resolve isso em segundos.

- Palavra? Que nome tem esse creme?

- Sou péssimo para decorar nomes de cremes, mas sei que é um frasco com um rótulo verde e azul com plantas. Logo que o veja o identifico. Se o desejar, podemos ir à loja dos produtos naturais e lhe indicarei qual. – Custa alguma coisa ser simpático? Acho que não.

- Faz isso por mim? – Que raio de pergunta. Fazia isso e muito mais. Tudo o que ela pedisse, desejasse ou sonhasse.

Levantamo-nos e dirigimo-nos para a saída. Pensei que não tinha comprado o livro que pretendia, naquele momento. Esperava que o creme compensasse a perda.

Achei por bem fazer as apresentações. Disse-lhe o meu nome e ela o dela. Chiça, acho que agora tinha mesmo a obrigação de me lembrar!

Descemos pelas escadas rolantes e pouco depois entramos na loja de produtos naturais. Dirigi-me de imediato ao local dos cremes e encontrei o que procurava. Sei o nome mas não o vou dizer. É que nem sempre resulta e eu não quero responsabilidades.

- Aqui tem. Mas olhe que a aplicação deve ser acompanhada por uma boa massagem. – Observei, sem segundas intenções, claro.

- Aposto que a sabe aplicar. – Disse, sorrindo com alguma malícia.

- Em boa verdade, considero-me um perito. – Ora, uma mentirinha sem importância. Haverá alguém que não saiba dar uma massagem nos pés? Duvido.

- E agora? Tenho o creme, mas continuo com as dores nos pés. – Olhou para o frasco e depois para mim.

Alguém me pode explicar, como é que uma pessoa se deve comportar numa circunstância destas? Eu não conheço a brasa de lado nenhum, não tenho exactamente uma figura em que as mulheres caiem babadas aos meus pés só de me verem, de Adónis não tenho nada. A maioria das vezes fico invisível no meio da multidão. Aspecto de rico também não. O facto de lhe ter oferecido o creme, nem chegou a dez euros, não prova nada. Que eu saiba a Fnac não é um habitual local de engate. O que é que um pobre diabo como eu podia dizer numa situação daquelas. Acho que só uma coisa: na minha ou na tua. Lembrei-me que a mulher a dias não ía ao meu apartamento há mais de quinze dias, um filho doente, acho. Não é difícil de adivinhar o estado em que se encontrava. Se bem me recordo, não havia lugar nenhum onde não houvesse uma peça de roupa minha. Não, o meu apartamento, não era, de facto, o melhor local. Por outro lado, um conhecimento de poucos minutos, não oferecia suficiente confiança para convidar um desconhecido para sua casa. Depois, eu não sou assim tão sortudo que vá para a cama com uma mulher com tudo em cima, sem indícios de silicone – mais tarde verifiquei a veracidade desta afirmação – nem nada para por defeitos, minutos depois de a conhecer. A coisa comigo funciona com muito mais dificuldade e trabalho e nem sempre é coroada de êxito. Não que isso me chateie de sobremaneira, na verdade prefiro que o meu lado romântico prevaleça. Um jantar à luz de velas, um passeio ao entardecer, horas escorreitas a conversar sobre a importância das futilidades, um beijo fugidio, uma tímida carícia. Enfim, coisas do meu intimo.

- Se lhe dói assim tanto, posso dar-lhe uma sugestão. – Disse, com toda a seriedade estampada em meu rosto.

- Diga. Sou toda ouvidos. – E ficou na expectativa.

- Aplicar-lhe o creme aqui nos corredores, não seria o melhor espectáculo. Se concordar podemos ir ao parque de estacionamento, senta-se no meu carro e eu faço o tratamento. O que acha? – Ao ver o meu carro, ía logo descobrir que era um teso.

- Aceito. Mas pode ser no meu carro. Eu tenho mesmo de ir embora.

Nada mais me restava senão aceitar. Segui-a até ao estacionamento. Num dado momento, ela colocou-se dois passos à minha frente à minha frente. Saia branca, justa, pois claro. Nada de fio dental. Ergui os olhos aos deuses, profundamente agradecido. Não gosto de fio dental. Prefiro a descoberta ao descoberto. E depois aquilo não dá trabalho nenhum, não oferece resistência, não deixa adivinhar nada, não permite o desvio. O deslocar. Brancas, num V perfeito, indiscutível, marca bem visível. Não tenho nenhum fetiche com cuecas, mas sou de opinião que é a cor que melhor se molda ao corpo de uma mulher. Acho o preto horroroso e o vermelho de muito mau gosto. Bem, também não sou contra a uma leve transparência. Aquelas tinham. Perfeitas, ondulantes, oferecidas. Antes que me desse alguma, apressei o passo e coloquei-me a seu lado. Dois ou três centímetros mais baixa. Mas será que aquela mulher não tinha defeitos? Começava a duvidar.

Bom, os dedos já começam a ficar um pouco doridos pelo rodopiar da caneta. É que, além de continuar a não me recordar do nome dela, não sei como hei-de contar esta cena da massagem dos pés, no carro. Mas já que cheguei até aqui… (Continua)