domingo, maio 01, 2005

Para além do infinito

Desmemorias 3


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Estas palavras que procuro descobrir em páginas amareladas, onde derramei todas as minhas filosofias que, em desespero, não correspondem ao sentir em meu coração onde predominou a alma encarcerada. Mãezinha, não sei que dia é hoje, esqueci que dia foi ontem e pouco me importa que dia é amanhã. Mas hoje, mãezinha, gostava de saber que dia é. Era para colocar lá em cima, no topo da página, do lado esquerdo. Tantos de tal. Perdoa, mãezinha, não sei. É esta mente que contradiz em meu ser um sentimento que não explica a formação, com um esgar de deformação, sinto na minha boca ferida todas as palavras que não são ditas, que possivelmente jamais o serão, esquecida que foi a reconstrução da formação em cada uma das acções
Esta visão deturpada do que é a escrita por entre o muito que foi escolhido no sentimento que é explicado pelo pouco que é compreendido. Um julgamento sem fim, na culpa sobre o tempo por paralisar o relógio e, assim, permitir o passado alojar-se perante o presente a culpa de um suicídio cometido pelas lembranças que foram lembradas no tempo em que não traçaram o caminho que ficou por percorrer.
Mãezinha, mas eu queria, juro que eu queria. Lembrar que existes, que choras no quarto ao lado, de ouvir os teus soluços abafados, agarrar entre os meus dedos os ponteiros que congelaram os sentidos e que não conseguiram explicar razão porque o tempo paralisou. Um veredicto soletrado pelo vento que confessou o carregar das faíscas para o lago das lembranças. Guardadas em tesouros os lingotes que não valem o preço de um coração cortado ao meio. Uma paixão que busca uma razão, um amor que busca um pensamento, um sentido que não diz o verdadeiro pensamento de uma mente que perdeu os seus espinhos. As qualidades em que admirou pelas pétalas e em que, por tempos perdidos, reinaram por entre o olhar que o encantou.
Ai, esta confusão entre a primeira e a terceira pessoa e tanto queria encurtar a distância. Desejar no desespero proteger o coração que restou das ruínas em que se instalaram as lágrimas que nunca foram derramadas. Espinhos que silenciaram a mente e que procuraram no destruir de uma paixão, o veredicto e o entender da razão. Tentou proteger o coração entre as palavras frias que foram soletradas em momentos de estertor e silêncio. O vento gélido vindo de nortes longínquos, perdidos no branco sem fim, instalaram-se a meu lado e, ai, congelaram o seu coração que chorou durante o percurso do anoitecer que passou.
Mãezinha, grita aí de cima e diz-me que dia é hoje. Por favor, diz-me. Eu estou aqui, na parte mais sombria do fundo do poço. Grita que eu ouço. O esgar será um sorriso. Prometo. Anichado tacteio as rachaduras que buscaram a compreensão de quem a não entendeu, uma paixão que se apagou e deixou de queimar pela lareira que aqueceu as ruínas restantes das lembranças encaminhadas, o filosofo que faleceu no último brilho restante da lua.
Deixa que eu caminhe e derrame na poeira da estradas as palavras sem nexo e procura nelas a compreensão que já perdi. E depois, mãezinha, explica para mim. As estrelas que não congelaram e cortaram as linhas da razão em seu último desejo, as pontas que cercaram o seu corpo e guardaram. O seu olhar pela eternidade que esquecida, talvez até perdida, lua que escreveu na pedra que o descreveu o jaz que não foi lembrado pelos espinhos que foram guardados em sua mente.
Ruínas que tomaram a forma de um castelo e o guardou em um cómodo escurecido e manchado, lareira que teve o seu veredicto decidido e prevaleceu por toda a noite na esperança das águas tomarem conta do conveniente e acabaria com as faíscas restante nas frestas das madeiras que constituíram a sua formação, a eternidade que não durou e o despertar do relógio que revelou o olhar brilhante de um filosofo que perdeu a sua paixão por não lidar com a verdade dos seus sentimentos. O ponteiro que voltou ao seu curso determinado. As pétalas que fecharam as feridas em seu semblante pontas de estrelas que foram guardadas nas linhas desenhada na palma da sua mão, as linhas de um destino já perdido. As palavras descongeladas com a caneta, sobre a mobília abandonada na filosofia de amar sem um compreender a perfeição, o não saber explicar o sentimento existente dentro de um coração que se apaixonou pela perfeição de uma rosa, como provam as suas pétalas e revelou nos seus espinhos a lembrança de um anoitecer, em que as estrelas dominaram sobre o seu olhar cansado. Momentos de felicidade que descreveu as batidas do seu coração e a lembrança que não perdeu no seu ser que não se acabou, a eternidade de caminhar por uma corda fina como um palhaço perdido dentro da tenda do seu circo, um picadeiro com a sua plateia silenciada, o admirar do desenho feito em uma folha amarelada, o olvidar das filosofias e o relatar em rectas dos pensamentos criados. A serenidade de amar sem ao menos ter a compreensão do termo criado pelo cientista que busca a sua química de compreensão um amor que não se findou. Terminara por entre as pedras que cercara um túmulo que será esquecido por entre os espinhos que o formara. As mesmas, eternas, pétalas que serão jogadas pelo caixão e o protegerá da realidade de não amar durante o caminhar. Não existe mais ninguém neste mundo que eu possa abraçar. Não existe mais ninguém. Só tu, mãezinha, apesar de tão longe. Apenas uma parede nos separa, mas que longe estamos, mãezinha. E se me deixares agora, deixará tudo que nós fomos incompleto e perdido, mais do que estou. Não existe realmente mais ninguém. És a única. E continua sendo a parte mais difícil para ti, colocar a tua confiança em mim. Eu te amo mais do que eu posso dizer, mãezinha. Só não sei que dia é hoje e não adivinho que dia será amanhã. O ontem já eu perdi. (Diário de páginas vomitadas)

2 comentários:

Mitsou disse...

Deixo-te apenas um abraço apertado, que a voz calou-se num embargo de comoção e afecto.

Cris disse...

A consciência da perda plena e da dor causada a si e aos outros. Um grito imenso de um socorro urgente, mas incapaz de ganhar voz...
O momento entre a réstea de lucidez e a loucura adivinhada... o quase no fundo do poço...

É aqui que uma mão pode ser estendida... se o corpo q a segura n estiver mais preocupado com a sua própria dor do q com os pedidos de auxílio q chegam até si!

Adorei!

beijinho