Em meio a toda dor,
Enxerguei quem és...
És a culpa que carrego nos ombros,
És a vida que deixei de viver,
Os sonhos que abandonei.
És todo veneno amargo que experimentei,
Os caminhos errados que trilhei.
És os versos que não fiz,
Os nós que não desatei.
És todas as dúvidas que me queimam a alma,
Todo amor que não fiz,
Que não recebi...
Que não dei.
És todos os desencantos,
Todas as desilusões,
Todas as baralhadas que gerei.
És a única resposta para todas as minhas perguntas,
As chaves de todas as portas aferrolhadas,
A insónia das noites de silêncio,
Em que escrevi sem descansar...
Gemi sem prazer
Sofri na dor do ressacar
És o sentimento que me estrangula,
O grito preso na garganta,
És a venda que cobre meus olhos,
O espinho que fere a carne.
És tudo isso e muito mais...
És também a liberdade que não consigo sonhar
E o amor e raiva e ódio que guardo por ti...
Mas não te deixo
Porque tu não deixas eu partir
(Diário de páginas vomitadas)
2 comentários:
Parece-me ser este o momento da tomada de consciência da impotência perante o vício. Está aqui descrita o percurso de quem caminha por estes trilhos. A novidade, a vontade de experimentar, a sensação de leveza e o debate interior entre o " ainda sou eu q mando" e o "já n sei bem quem sou"... A partir daqui já só o "não te quero, mas n consigo deixar-te!"...
Gostei muito deste poema. Já trabalhei com muitos adolescentes que vivem o drama da droga e isso ensinou-me de alguma forma a estar sempre alerta para um qqer gesto q seja um pedido de auxílio. São quase imperceptíveis esses gestos, mas estão lá e, ainda q pouco eu saiba fazer para ajudar, posso pelo menos dar início a um processo lento e penoso de apoio q, quem sabe, levará a bom porto pelo menos alguns!
Permites-me q copie este poema e o use, a seu tempo, nas minhas aulas?
Um beijo imenso, Alexandre!
Gostei muito do teu grito/descoberta, Alexandre. Todos temos de trazer connosco estes "nãos"; mas que custa muito, custa. Um beijo enorme.
Enviar um comentário