terça-feira, janeiro 10, 2006

Marx ou Deus?

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Nota introdutória.
Quando iniciei estes espaços, mais conhecidos por blogs, depois de ter viajado por largas dezenas e ter descoberto um mundo absolutamente fascinante, resolvi fazer duas promessas a mim mesmo. A primeira era que jamais me meteria em politica (chegaram os cinco anos em que fui director de um jornal) e a segunda é que nunca falaria na minha pessoa. A razão da primeira, e isto dito de uma forma directa e simples, é que a politica me enoja. Ponto. Quanta à segunda existem várias vertentes. Começo por dizer que admiro as pessoas que se desnudam nos seus blogs, eu não tenho essa coragem, a seguinte é que a minha vida é tão sem interesse, que prefiro o mundo da invenção.

Este texto que hoje aqui insiro, foi a pedido e foi um Editorial que escrevi no final de 75, na altura em que o meu filho mais velho tinha entrado para a então terceira classe. Mais uma vez não vou tecer comentários. Transcrevo apenas o Editorial. Nem imaginam as reacções que tive. Fui chamado de todos os nomes existentes e muitos outros inventados. Mas valeu a pena. Só porque fui lido. Apenas por isso.



Tem oito anos o Miguel Alexandre e vai este ano para a terceira classe. Numa das conversas que habitualmente temos, fez-nos perguntas sobre Deus, religião, origem da humanidade, o céu como habitação dos que morrem, etc. Perguntas alicerçadas em ideias um tanto confusas e até falsas, denotando um perfeito e total desconhecimento. Perguntas oriundas de conversas de brincadeiras com outros miúdos e de palavras ouvidas aqui e além, sem nexo, sem base. Falhas em absoluto de ideias,

Respondemos conforme pudemos e soubemos, sentindo que não havia a mais pequena coadunação entre a pergunta e a resposta, pelo que, constantemente, tivemos de rectificar a pergunta para encontrar o esclarecimento mais correcto possível. Sentimos não uma qualquer mistificação alienante de ideias, mas sim uma tremenda confusão e absoluta ignorância, factos que nos assustaram como pais e educadores.

Foi nesse momento que recordamos a leitura de uma local no jornal “O Concelho de Proença-a-Nova”, jornal que frequentemente aborda temas educacionais com profundidade e interesse, proporcionando-nos momentos de óptima e reflectida leitura. Trata-se de uma frase dita por uma criança à sua professora de instrução primária: “Minha senhora, os livros não falam de Deus!”

Folheamos, em exame mais atento e constatamos, mais uma vez que a Verdade continua na boca das crianças: os livros não falavam de Deus, como passavam praticamente em branco a nossa História,

Também fazemos eco de uma exigência justa de que o ensino tem de ser um natural direito de todos, pela que a sua democratização é absolutamente urgente e necessária, mas cremos ser também necessária uma democracia pedagógica. Não pode, nem deve, ser esquecido, o ambiente que rodeia a criança, fora dos livros escolares.

Através da leitura de Marx, verificamos que a laicização faz parte do seu programa ideológico. Esta concepção marxista do mundo e do próprio homem foi colocada de repente, e em pouco tempo, perante os espíritos ainda virgens dos nossos pequenos estudantes. E estes não conseguem encontrar a mínima ambiência que os tem rodeado, e ainda continua a rodear, quer queiram quer não.

Entendemos que o estudo sociológico de Marx ou de qualquer outro pensador deverá ser ensinado e até aprofundado o seu estudo; o contrário seria estropiar uma realidade cultural e um corte na liberdade de saber; mas isso não pode significar a eliminação pura e simples de uma raiz religiosa e histórica, que é bem nossa, e o negar essa realidade seria o mesmo que negar a nossa existência como povo, cuja história atravessou oceanos e, com toda a justiça nos devemos orgulhar. Que seria de um povo sem o seu orgulho histórico?

Aos pais compete exercer a sua responsabilidade no processo educativo dos seus filhos, intervenção perfeitamente reconhecida, mas sem as mínimas bases estruturais que permitem um efectivo exercício desse direito e dever.

Como pais temos uma palavra a dizer e é no diálogo conjunto que temos de procurar descobrir os caminhos e objectivos que permitam a construção do equilíbrio na educação dos nossos filhos.

Eliminar Deus dos livros escolares não esclarece as crianças das multifacetadas realidades que as rodeiam, neste conturbado momento, em que todos nós procuramos a melhor estrada a percorrer. Se anteriormente existia um certo excesso, em que o esclarecimento simples era sobreposto pela alienação e até uma certa mistificação história, actualmente verifica-se que existe a mesma sobreposição, só que, talvez, um pouco mais subtil, por isso mais perigosa, mas não o suficiente que a criança não descubra que os livros não falam de Deus.

Das escolas primárias deverá sair o homem de amanhã, formado para a liberdade, para a responsabilidade, imbuído de capacidade de abertura e receptivo aos valores morais e históricos a que pertence, pelo que a escolas não se podem dissociar da realidade humana e social do nosso País.

Não pode ser negado nem escondido a uma criança que inicia a sua formação, o contexto social português onde se encontra inserida, assim como toda uma realidade que a envolve.

Para que a sua participação na construção da sociedade se torne activa deve ser-lhe incutida a capacidade suficiente de olhar os factos, as situações envolventes e a informação possuídas de um desmistificado sentido critico à procura da verdade.

Destruir as raízes fundamentais do valor histórico de um Povo, seria destruir a nossa própria essência de homens.

4 comentários:

Elise disse...

excelente! grata pela partilha! tomei a liberdade de o citar n'O Crepúsculo, de forma a continuar a discussão. Obrigada!

Unknown disse...

Eu sempre te digo que tu és excelente na tua escrita, aprecio muito a coerência com que postas textos fantástico com clareza e rigor, maior cego é aquele que não quer ver .Há pessoas que preferem, abstrair-se do que é importante para a humanidade, mais tarde ou mais cedo, iram ser vitimas do poder laico que ignora a Deus. beijinhos Alexandre

Júlia Coutinho disse...

Gostei muito deste texto.
Parabens!

Unknown disse...

Uma vez mais entrei, sem pedir licença. Ler devagarinho - ao som da música - para entender ...
Vou voltar ...