quinta-feira, novembro 17, 2005

Blues

f1045045.jpg


Abandona toda essa vontade, por vezes um tanto dispersa, de entenderes o mundo e o desejo que se mantenha em linha recta.

O corpo, o teu, o meu, até ao instante que não seja mais o meu ou o teu, o mesmo que teima em vergar numa desesperada tentativa de retorcer os poros, os mesmos que nossas línguas tantas vezes percorreram, os cantos que sempre tentamos percorrer com a lentidão de segundos parados, todo esse tanto que temos ou que desejamos.

Eleva a tua prece e desiste de uma vez do céu com poucas estrelas, do vestido cobiçado naquela montra, do carro cuja bateria resolveu deixar de cumprir o seu dever. Daquele pedaço de cabelo que veio numa carta sem remetente, do perfume encontrado na camisa e que ficou enjaulado nos teus pensamentos. Não é meu, não é teu, na verdade não é de ninguém, nem um sonho e muito menos um pesadelo, tudo se foi no comboio das dez

Com as tuas mãos de guerreira, espada em riste, corta o meu peito, fere os meus sentidos, trespassa o que é teu e depois, feita feiticeira, num toque de magia, que eu seja a perfeição dos teus desejos.

Se tal for teu desejo, mata-me com as tuas palavras, atinge meu peito com a tua indiferença, aumenta a minha surdez com os teus silêncios, deixa que a minha queda se processe no abismo mais fundo que a tua imaginação possa criar.

Permite que tudo se erga do submundo como força fálica pronta a temperar a dualidade, deixa que os teus passos te conduza para um espaço que não seja apenas solidão e intua como o feminino exige e presenteia na presteza e na simplicidade das coisas. Afinal somos os poucos que sobraram, as migalhas de um chão transformado em palco de cópulas desejadas e no ar aquela indolência dos blues que tanto apreciamos.

Se eu gritar promete que me calas, se eu virar pó promete que me espalhas, se eu virar promete que invertes. Estende, multiplica, soma e depois atira tudo aos ares e se souberes, reza para que nos juntemos completos numa incompletude e inquietude de alma gigante, a mesma que nunca conseguimos aprender a domar.

Tudo que é demais assusta e o medo nos arremata. Se eu quebrar, tu me colas?

3 comentários:

Conceição Paulino disse...

este teu texto é complicado. Complexo e complicado para comentar. Há como k uma raiva residual k nos diz k é melhor fixcar em silêncio.Tem uma boa 6ªf. e umóptimo f.s, cheios d eluz e paz. Bjocas

Afrodite disse...

desejo vestido de raiva
raiva dobrada pelo vento da desesperança
tudo o que é demais é de menos

que o silêncio seja a prece da inquietude!

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Alexandre

O teu texto é completo.

Mais uma vez Parabéns pela tua escrita.

Beijinhos

Bfs