segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Enseada

Passei hoje por um muro, grande, alto, cor de terra, onde uma serpente quieta e brilhante descansava sobre sua própria sombra pequena. Não sei se ocorreu hoje ou se terá sido ontem, não há como medir um tempo que nem tempo teve de ser tempo. Talvez esta também não seja a carta, e o tempo descansa pacífico naquela cadeira opaca e disforme, onde é de seu gosto descansar. Por aqui se quedava por este instante contando uma história comprida, mas desapareceu como sempre desaparece.

Existe algo aqui dentro e eu sei. Aquele colar de safiras, imitação quase perfeita e uma pintura de cores e riscos, um trigal com imagens, a noite recheada de nossos segredos, o fogo como os cabelos, e o mar e muito mais.

Existem memórias dentro das desmemorias que nos cuidam, existem preciosidades discretas, o silêncio que fala mais que todas as palavras ditas, e os corpos dialogando em surdina. Recordo as faces rosadas, os olhos iluminados e a felicidade despida de roupas, lembro das curvas, dos pêlos, dos cheiros, esqueci as cartas, preciso dos corpos. Na enseada do meu silêncio descobre e guarda as vontades.

1 comentário:

Cris disse...

Chego aqui, sento-me nesta paz doce e fico a contemplar as palavras... nunca me canso! Qualquer dia dou comigo a chamar-lhe "o meu canto do mundo".

Beijo